Entrevista com a diretora do Instituto Metropolitano de Bratislava (MIB), Petra Marko
Petra Marko é uma arquiteta e urbanista eslovaca. Atuou por muitos anos em Londres, onde fundou em 2013, junto com Igor Marko, a empresa Marko&Placemakers, voltada para princípios transformadores de placemaking (urbanismo participativo) e urbanismo verde. Desde 2024, é diretora do Instituto Metropolitano de Bratislava, onde, entre outras coisas, analisa o desenvolvimento urbano a partir da ótica das crianças. Conversamos com Petra sobre a atuação do MIB, a transformação gradual de Bratislava e os desafios enfrentados, similares aos de Londres. Ela também nos apresentou os palestrantes da conferência Start with Children, que acontece de 13 a 14 de maio em Bratislava.
O Instituto Metropolitano de Bratislava foi fundado em 2019. Quais temas vocês abordam e defendem na cidade?
O MIB surgiu como um instituto conceitual nas áreas de arquitetura, espaço público, planejamento urbano e participação. Simplificando, buscamos responder à pergunta: Que cidade queremos? Atuamos tanto por meio da criação e planejamento da transformação física da cidade, quanto como facilitadores e mediadores junto ao público especializado e geral. Em parceria com a prefeitura, nosso objetivo é promover uma urbanização de qualidade, com soluções funcionais que reflitam as necessidades da população, além de construir uma relação ativa e engajada das pessoas com o espaço urbano. No nosso contexto histórico e geopolítico, isso é muito importante.
Quais são os maiores desafios enfrentados pelos espaços públicos em Bratislava?
Durante muito tempo, o espaço público foi um tema negligenciado em Bratislava. Faltaram investimentos relevantes e também soluções estratégicas e conceituais. Após a Revolução, a cidade cresceu sem valores ou princípios bem definidos que protegessem o interesse público, o que acabou minando a confiança entre os cidadãos, a prefeitura e os investidores. Paralelamente, com o aumento da qualidade de vida, houve um crescimento expressivo do uso de carros particulares e da suburbanização.
E o que impulsionou a mudança gradual desse cenário?
Há cerca de uma década, surgiu uma demanda vinda da própria população, que passou a se preocupar ativamente com a forma como deseja viver na cidade – com o surgimento de feiras de rua, hortas comunitárias e a ativação de prédios urbanos ociosos. Hoje vivemos um momento em que a cidade tem uma visão clara e uma liderança política determinada, o que também está relacionado à criação do MIB. Nosso instituto, com uma equipe de quase 70 especialistas interdisciplinares, é uma ferramenta para desenvolver a cidade de forma estratégica e planejada. Os resultados desse trabalho – com base nos manuais e princípios do MIB – já são visíveis tanto em ruas de trânsito comum quanto em espaços públicos icônicos revitalizados. Eles se baseiam em princípios de inclusão, melhoria do espaço coletivo, incentivo à mobilidade a pé e por bicicleta, e maior atratividade do transporte público.
Talvez seja ousado comparar os espaços públicos de Bratislava e Londres, onde você atuou por tanto tempo?
Mesmo sendo cidades muito diferentes, Bratislava e Londres enfrentam desafios semelhantes – como mobilidade sustentável, habitação e espaços públicos. Isso vem de um urbanismo da segunda metade do século XX que, simplificadamente, planejou cidades para carros, não para pessoas. Também se relaciona com a crise climática, um problema global. No processo de reequilibrar nossa relação com o espaço público, Bratislava está em um ponto de partida diferente de Londres, mas seguimos os mesmos princípios. A mudança já é visível.
Você consegue citar exemplos concretos?
Um exemplo é a revitalização da Praça da Liberdade (Námestie slobody), que durante décadas foi um „buraco negro“ no mapa. Hoje é um dos espaços públicos mais populares da cidade, onde milhares de pessoas se reúnem para shows ou protestos. No dia a dia, é um local vivo de encontros e passeio com cães. A fonte reativada na praça funciona como um parque para crianças e adultos. Esse local pode ser comparado à transformação da Trafalgar Square em Londres, que há vinte anos deixou de ser uma rotatória e virou uma praça de verdade com zona de pedestres. Mesmo em Londres, nada aconteceu do dia para a noite – a criação de uma área de pedestres na Oxford Street, por exemplo, está em debate e planejamento há décadas.
E qual é o papel das crianças no espaço público? Elas não são esquecidas no planejamento urbano?
A ONU define os direitos das crianças – entre eles o direito ao brincar, ao se reunir (em espaços públicos) e a participar dos processos decisórios. Mas como crianças não votam, suas necessidades nem sempre foram prioridade política nas cidades. O mesmo aconteceu com as mulheres, já que áreas como planejamento de transportes e desenvolvimento urbano foram historicamente dominadas por homens, refletindo mais suas necessidades. Isso, porém, começou a mudar no final do século passado. Hoje, o planejamento sensível ao gênero e às necessidades de crianças e mulheres está ganhando destaque.
Quais países já consideram as necessidades das crianças há mais tempo? E como está Bratislava nesse sentido? Que impacto isso tem na vida cotidiana?
Cidades holandesas e Viena, aqui perto, vêm seguindo esses princípios desde os anos 70, e hoje são referências em qualidade de vida para todos. No MIB, a inclusão e as necessidades dos grupos vulneráveis – crianças, jovens e idosos – são levadas em conta em todos os níveis, desde o design das ruas até o planejamento urbano. Nosso programa Cidade para Crianças foca na participação das crianças na criação urbana e na transformação dos arredores das escolas em espaços mais seguros e agradáveis. Em três anos, melhoramos o ambiente em torno de escolas que atendem cerca de 15 mil crianças. E não se trata apenas de mudanças físicas, mas também de formar uma nova geração mais engajada e conectada com seu entorno – por isso o programa também inclui ações participativas como Ruas para Brincar, oficinas e caminhadas sensoriais.
O tema da conferência Start with Children, organizada em parceria com o MIB, é: Como criar vizinhanças e comunidades vivas? Quais palestrantes podemos esperar?
Entre os principais nomes está Carlos Moreno, urbanista mundialmente conhecido e criador do conceito da cidade de 15 minutos, que transformou Paris. Teremos Dinah Bornat, arquiteta e membro do conselho do prefeito de Londres, autora da publicação All to Play for: How to design child-friendly housing; Eva Kail, urbanista de Viena, que liderou a transformação da cidade com um planejamento sensível ao gênero; Jonny Anstead, desenvolvedor do premiado projeto de habitação comunitária Marmelade Lane em Cambridge; e Adam Gebrian, arquiteto tcheco conhecido por popularizar a arquitetura, que vai compartilhar experiências de Barcelona sob a perspectiva do seu filho. E isso é só uma amostra – a lista completa de palestrantes está disponível no site da conferência.
Logo após a Start with Children, acontece a conferência Pulse, em Ostrava. Neste ano, o tema é reinício, e o prefeito e arquiteto Matúš Vallo também estará presente. Diante das mudanças econômicas, sociais e ambientais, você acredita que áreas como design, arquitetura e planejamento urbano também devem se reinventar?
A arquitetura e o design fazem parte do nosso dia a dia – por isso é essencial repensarmos constantemente como planejamos os espaços ao nosso redor. Isso sempre foi importante: as cidades são o berço da civilização há séculos. Estima-se que até 2050, 70% da população mundial viverá em áreas urbanas. A criação e transformação das cidades é, portanto, um tema crucial – não só para prefeitos, mas também para políticos nacionais, economistas e sociólogos. Caberá às cidades e à sociedade como um todo encontrar soluções para desafios como a crise climática e as desigualdades sociais e econômicas. Áreas como arquitetura, urbanismo e design podem influenciar fortemente esse futuro – desde que os tomadores de decisão compreendam a importância do seu papel. Isso é confirmado pela tendência crescente de cidades voltarem a criar o cargo de arquiteto-chefe municipal.